Quando eu tinha lá pelos meus 15 anos, era feliz dormindo. Tinha uma frase que sempre dizia pra minha mãe: "Queria dormir pra sempre!". Diante da cara de espanto da minha mãe, do pedido dela para que eu não repetisse aquilo e da explicação sobre como o "dormir pra sempre" era o mesmo que morrer, mudava de idéia e dizia que queria dormir por alguns meses, ou anos, e depois acordar e viver.
Hoje, ainda gosto de dormir, mas às vezes preferiria não ter de dormir na vida. Fico imaginando o quão melhor seria minha vida se não tivesse necessidade dormir, quantas coisas legais eu teria tempo pra fazer. E não só isso, não teria uma outra agonia que me acompanha desde lá, desde os meus 15 anos: a agonia do inesperado do dia seguinte.

O dia seguinte sempre foi, pra mim, uma folha em branco e folhas em branco às vezes me assustam. E agora, o que fazer com essa folha em branco? Encaro, desenho, rabisco, pinto... Mas não tem como apagar, não dá pra voltar e consertar. É do jeito que é e já era!
Gosto de dormir de tarde, pois quando acordo ainda é hoje e o hoje eu já conheço, conheço os traços, desenhos e rabiscos. O hoje tá sob controle. Resisto ao sono da noite. Tenho medo da folha em branco, medo do amanhã, onde tudo pode acontecer.
Ter de deitar e dormir me irrita um pouco.
Ter de lidar com a "vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão", me amedronta.